Exercicios Fisicos na Reabilitacao Cardiaca.

Estilo de vida: Importância clínica dos exercícios físicos na reabilitação cardíaca.

A inatividade física é o fator de risco modificável para as doenças cardiovasculares e para várias doenças crônicas, como: Diabetes mellitus, câncer (colon e mama), obesidade, hipertensão, osteoporose e osteoartrite e depressão.

A inatividade física na população canadense alcança a prevalência de 51% da população, valor este maior do que qualquer outro fator de risco modificável.

A reabilitação cardíaca nas últimas 2 décadas vem se firmando como um importante aliado no controle e tratamento dos pacientes cardiopatas, mas a despeito desta afirmação, menos de 30% dos pacientes que poderiam se beneficiar do programa estão participando.

Dentre as causas desta subutilização estão:

  • Falta de encaminhamento medico por desconhecimento ou desinteresse
  • Baixa aderência pelos pacientes
  • Dificuldade de acesso aos serviços

Histórico

O primeiro relato na literatura medica do benefício do exercício físico foi do médico inglês William Heberden que relatou um caso de um paciente que apresentava angina aos esforços e que necessitava serrar madeira diariamente e evoluiu ao longo do tempo com melhora dos sintomas, no século XVIII.

Com passar dos anos esses relatos foram menosprezados dando lugar à afirmação de que exercícios físicos para cardiopatas eram deletérios e de risco, contribuindo para a ruptura cardíaca, insuficiência cardíaca e morte súbita.

O cirurgião inglês Jonh Hilton advogava a restrição prolongada ao leito até 2 meses apos um episódio de infarto agudo do miocárdio. Já na metade do século XX Levine e Lown introduziram a mobilização precoce pós-IAM, demonstrando que essa atitude reduzia o número de complicações provenientes do repouso prolongado, iniciando uma nova e importante era no tratamento dos cardiopatas.

Desde os trabalhos de Morris e posteriormente Paffenbarger, vários estudos prospectivos de longa duração vêem demonstrando a correlação importante que existe entre aumento do risco relativo de morte por qualquer e específicas causas (doenças cardiovasculares) com a inatividade física.

Durante a década de 60 alguns grupos de reabilitação cardíaca começaram a se formar.

Exercício Físico e Doença Cardiovascular

O lifestyle Heart Trial foi o primeiro estudo randomizado e controlado a mostrar que pacientes fora do ambiente hospitalar podem ser motivados a fazer e sustentar mudanças no estilo de vida, com regressão de aterosclerose no período de 01 ano. Posteriormente, o estudo SCRIP mostrou que rigorosa mudança nos fatores de risco de doença cardiovascular, em um período de 40 anos, resultou em 47% menos estreitamento luminal coronariano e redução no número de hospitalizações por eventos cardíacos.

Recentes investigações revelaram grande redução no risco de morte por qualquer causa e especialmente de etiologia cardiovascular. A inatividade física em mulheres de meia idade contribuiu para o aumento de 52% da mortalidade por todas as causas, o dobro por causa cardiovascular e 29% de câncer, quando comparado com mulheres que faziam atividade física regularmente.

Os benefícios da atividade física regular se estende aos indivíduos com doença cardíaca estabelecida. Essa constatação foi fundamental para que houvesse uma mudança importante nos conceitos, já que por muito tempo o repouso e a inatividade física foram normas recomendadas para os pacientes com doença cardíaca.

Revisões sistemáticas demonstraram claramente a importância de se engajar num programa de atividade física regular, com o objetivo de atenuar e até mesmo reverter o processo inflamatório persistente nos pacientes cardiopatas com redução da placa aterosclerótica esses pacientes com doença cardiovascular estruturada.

Por exemplo, a revisão sistemática e meta-análise de 48 estudos revelaram que comparado com o cuidado usual, a reabilitação cardíaca reduzia significativamente a incidência de morte prematura por qualquer causa, mas principalmente as de origem cardiovascular em particular.

A atividade física rotineira melhora a composição corporal (reduz a adiposidade abdominal e melhora o controle do peso), realça o perfil lipídico (reduz o triglicerídeos, aumenta o HDL e melhora a relação HDL/LDL), melhora o controle glicêmico e a sensibilidade insulínica, reduz a pressão sanguínea, aumenta o tônus autonômico, reduz a inflamação sistêmica, diminui a coagulação, aumenta o fluxo sanguíneo coronariano, melhora a performance cardíaca, estabiliza a função endotelial e melhora do status psicológico (redução do estresse, ansiedade e depressão).

As alterações na função endotelial que ocorrem com a realização da atividade física contínua, talvez tenham um papel fundamental na melhora da qualidade de vida e propriamente da sobrevida desses indivíduos. A disfunção endotelial é observada com o avançar da idade, nos tabagistas, hipertensos, diabéticos, hipercolesterolêmicos, obesos, conseqüentemente nos portadores de doenças crônicas como: doença arterial coronária, doença cerebrovascular, arterial periférica, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica.

Os benefícios da atividade física contínua não se restringe apenas na esfera cardiovascular, reduz a incidência de diabetes tipo, alem de ser um potente aliado no manejo e controle glicêmico. Um estudo prospectivo demonstrou que caminhar duas horas por semana, estava associado à redução de morte prematura por qualquer causa e cardiovascular 39-54% e 34-53%, respectivamente nos pacientes com diabetes.

Outro aspecto importante diz respeito a sua ação na redução de alguns tipos específicos de câncer (mama e cólon). Uma revisão sistemática epidemiológica revelou que a realização de atividade física moderada (como cortar grama), estava associada à redução de 30 a 40% em ambos os sexos de câncer de colon e nas mulheres ativas 20 a 30% de redução de câncer de mama, quando comparado aos indivíduos inativos 65.

Um aspecto importante que interfere na qualidade de vida, principalmente nos idosos é a osteoporose, sabidamente a atividade física, especialmente os exercícios de resistência, tem grande impacto positivo na manutenção e melhora da densidade mineral óssea 10. O risco de fraturas é menor nos indivíduos que mantém a atividade física regular.

Em resumo, é inquestionável e consistente a contribuição da atividade física regular na prevenção primária e secundária, na redução de risco de doenças crônicas e conseqüentemente na diminuição do risco de morte prematura.

A valorização de programas de promoção de saúde focando os benefícios da atividade física devem contemplar pessoas de todas as faixas etárias, já que a cascata que desencadeia o processo aterosclerótico se inicia na infância e se exarceba com a idade.